quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
A ponte dos Brito e Cunha sobre o rio Leça
Muito obrigado ao tio Quico por me chamar a atenção para este artigo interessantíssimo no blog "Matosinhos Antigo" de Américo de Castro Freitas, que aqui passo a reproduzir. Para ver o artigo original, clique aqui:
http://matosinhosantigo.blogspot.com/2009/09/ponte-dos-brito-e-cunha-sobre-o-rio.html
Os Brito e Cunha, da Casa do Ribeirinho, eram senhores de grandes extensões de terrenos em Matosinhos, nomeadamente nas cercanias da sua casa.
Entre os dois braços do rio Leça, o doce e o salgado, possuíam terrenos que antes foram salinas.
Algumas dessas salinas foram adaptadas para a criação de peixes.
Para aceder a esses terrenos existia uma ponte, que é a que vemos na imagem.
Este braço do rio é o salgado que, por correr a uma quota inferior, sofria a influência das marés.
Vemos veraneantes passeando de barco e uma família picnicando nas margens.
Belo trecho do rio Leça, para sempre desaparecido.
Na verdade, Matosinhos pagou um altíssimo tributo ao progresso.
Talvez mais do que o que podia pagar.
Clique na imagem, de 1908, para a ampliar.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Texto compilado por mim, a partir de vários sites na internet-
A 06/10/1641, deu-se o contrato de emprazamento (semelhante ao atual contrato de compra e venda), em 3 vidas e a favor de um antepassado direto de Antonio Bernardo Alvares de Brito, do Campo das Marinhas junto ao lugar de Matosinhos no concelho e Julgado de Bouças e que 'de norte a sul entesta com o rio Lesa de ambas as bandas por ficar no meio':
nele se produzia apenas 10 alqueires de pão “por o demais estar escaldado de ágoa salgada do mar e nam se lavrar nem dar fruto” (esta última informação permite colocar a hipótese de ter sido aí produzido sal anteriormente, pois é habitual em terrenos que
produzem sal, e depois deixam de o fazer por alguns anos, estes acabarem por ficar improdutivos, 'escaldados';
este topónimo, 'Campo das Marinhas', sobreviveu até meados do séc. XX quando esta ilha, entre os 2 braços (o 'doce' e o 'salgado') do rio Leça, desapareceu por volta de 1958 com a construção da Doca n.º 2 do porto de Leixões.
O auto de posse do Campo das Marinhas, a 20/02/1722, refere que o Campo das Marinhas era 'cito junto à ponte do lugar de Mathosinhos (a Ponte de Pedra) que é no Julgado de Bouças' e, ao ser descrito o ato de tomada de posse 'cível e corporal', foram mencionadas 'valadas, árvores, pedras e terra”, mas nada nos aponta para a produção de sal.
O cultivo de sal na propriedade dos Brito e Cunha terá começado no século XIX, entre a 1.ª e a 2.ª década, pelo que nos indicam as fontes:
se em 1826 temos um indivíduo de Aveiro a comprometer-se a ir 'marnotar a Marinha do Illustríssimo Senhor Antonio Bernardo de Brito e Cunha, cita na Quinta de Matozinhos', um documento de 22/01/1867 sobre a destruição das marinhas pela Portaria de 02/10/1866 sob o pretexto de saúde pública 'indica-nos que eram uma “obra que tinha 50 anos d’existencia', o que nos remeteria para um início de atividade em 1816.
Antonio Bernardo de Brito e Cunha era filho de Antonio Bernardo Alvares de Brito (nasceu a 20/05/1720 na freguesia da Vitória no Porto, casou em 1778 com D. Teresa Barbara da Cunha de Castro e Vasconcelos que tinha nascido a 08/10/1744 na Casa da Bouça Cova em São Cosme de Gondomar e veio a falecer a 08/10/1796, e faleceu viúvo a 21/04/1801), nasceu a 15/05/1781 na Casa do Ribeirinho em Matosinhos, foi o 1.º da família Brito e Cunha, teve 3 irmãs que faleceram solteiras depois da morte dele, casou a 05/02/1801 com D. Teresa Benedita da Silva Pedrosa, foi Senhor das Casa, Capela e Quinta do Ribeirinho em Matosinhos e da Casa da R. das Taipas no Porto por herança de seu pai, teve 3 filhos e 3 filhas tendo o José falecido menor, foi preso em julho ou agosto de 1828 pela Alçada (criada a 14/07/1828 por Carta Régia de D. Miguel I que tinha sido aclamado 3 dias antes) para julgar os implicados na revolução liberal de 18/05/1828 (a 'Belfastada' que tinha sido planeada na Casa do Ribeirinho em Matosinhos), esteve preso nos calabouços do Castelo da Foz com o rótulo de 'agitador político altamente perigoso' e, mais tarde, transitou para as celas da Cadeia da Relação no Porto, foi condenado à forca a 09/04/1829 pela mesma Alçada que reuniu em sessão plena e secreta entre as 10:00 e as 22.00 desse dia tendo as suas sentenças ficado secretas até 04/05/1829, e morreu enforcado na manhã de 07/05/1829 na Praça Nova, atual Praça da Liberdade no Porto, juntamente com outros 9 'Mártires da Liberdade' condenados também à forca a 09/04/1829). continua
Um litígio entre o seu filho João Eduardo de Brito e Cunha (nasceu no Porto a 08/08/1807, foi nomeado Capitão de uma das Companhias de Voluntários de D. Pedro IV a 20/06/1828, integrou o grupo conhecido por 'Bravos do Mindelo' no desembarque das tropas liberais na Praia de Pampelido, casou a 13/07/1835 na freguesia de Miragaia no Porto com a londrina D. Joana Carlota de Roure O’Neill, teve 5 filhos e 3 filhas, foi Senhor das Casa, Capela e Quinta do Ribeirinho em Matosinhos e faleceu a 17/06/1849) e as tias solteiras deste, a D. Joanna Emilia de Brito e Cunha e a D. Amalia de Brito e Cunha, a propósito da divisão desta propriedade e da sua forma de exploração, decorreu por volta de 1830 sendo, sempre que necessário, evocada a documentação mais antiga relativa à posse desta propriedade (como, por exemplo, o atrás mencionado Prazo de 1641):
um dos documentos desse litígio, já em fins de 1830 e por altura da morte da outra sua tia solteira a 07/12/1830, D. Maria Barbara de Brito e Cunha, referia que Antonio Bernardo de Brito e Cunha (nasceu a 20/10/1808 na Casa da R. das Taipas no Porto, casou a 23/04/1857 com D. Guilhermina Júlia Pereira da Silva, teve 4 filhos e uma filha, e faleceu a 30/07/1884), irmão de João Eduardo de Brito e Cunha, havia destruído uma ponte de pedra chamada Ponte de Brito e Cunha e que ligava as Azenhas no Campo das Marinhas, agora propriedade das tias, e que esta propriedade havia passado de juncal para marinhas de sal;
num rascunho duma petição feita em 1830 por João Eduardo de Brito e Cunha para emprazamento das 2 ilhas na foz do rio Leça, lê-se: 'existindo no meio do Rio de água salgada que ali forma o braço de mar que divide esta povoação de Leça da Palmeira, duas pequenas Ilhas ou juncais incultas e contendo apenas algum torrão e junco, deseja o Suplicante obtellos a fim de ali mandar cortar o torrão necessário para a reparação das marinhas que possui junto à ponte da mesma freguesia…' (este torrão serviria para fazer os muros ou motas das marinhas, os quais impediriam a água de avançar sobre elas, provando-se, desta forma, a atividade nas marinhas).
A 18/04/1826, um documento indica que Manoel Gomes, um homem de Aveiro especializado na produção de sal, vai 'marnotar' a marinha de Matosinhos 'pello jurnal diário de quatro centos e oitenta reis exceptuando os Domingos' (valor acima da média paga então aos trabalhadores agrícolas não especializados).
Em 1835, o Mestre Salineiro Antonio da Rocha Passo escreveu: 'Rendeo a Marinha neste anno de 1835 1:544 Razoins de sal' (a medida utilizada era a de rasas de sal);
a produção de sal na Marinha dos Brito e Cunha rendeu 2254 rasas ou razoins de sal em 1836, depositadas para venda num Armazém em local não indicado (apenas parte da produção foi vendida, mais concretamente, cerca de 85% do total, e as rasas de sal usadas na casa foram o equivalente a 1% da produção nesse ano, não se sabendo o destino de cerca de 14% do sal
produzido neste ano).
Terminada a salicultura no estuário do rio Leça com a já referida Portaria de 02/10/1866, a ilha dos Brito e Cunha sobreviveu ainda durante quase um século sob a designação do seu tradicional e multissecular topónimo: Campo das Marinhas.
Durante esse espaço de tempo, o local serviu para outros fins:
aproveitando seguramente alguns dos antigos taludes e comportas da atividade salineira, foi palco de uma estação piscícola cuja exploração estava já abandonada nos anos 30 do século XX, mas que se encontra registada em diversos levantamentos cartográficos existentes no Arquivo Histórico Municipal de Matosinhos;
foi também o campo de tiro do Real Club Caçadores de Matozinhos, de 1948 a 1954 ('em 1948 foram publicados os Estatutos e edificada uma nova e rudimentar sede social, situada até 1954 nas marinas da margem direita do rio Leça onde funcionava um campo de tiro para treinos e torneio de tiro');
desde então, e até ao seu desaparecimento em 1958 por causa da ampliação do Porto de Leixões com a construção da sua Doca n.º 2, o Campo das Marinhas transformou-se num espaço semi-selvagem, ocupado pontualmente por algum gado vacum que aí ia pastar, acedendo-se ao local através de uma pequena ponte com pilares em ferro, a Ponte das Varas ou Ponte de Brito e Cunha que foi construída por esta família ligando a marginal de Matosinhos (a norte da Quinta do Ribeirinho) ao Campo das Marinhas sobre o braço salgado do rio Leça.
Dessa época e dessa utilização do Campo das Marinhas chegaram até aos nossos dias algumas fotografias e belíssimas telas do mestre leceiro AGOSTINHO Antonio SALGADO de Andrade (R. da Ponte n.º 1, Leça da Palmeira, 21/07/1905 - Calçada do Monte, Leça da Palmeira, 25/04/1967). E a memória, dos mais velhos, do intenso ruído do coaxar das rãs que, oriundo das antigas marinhas, inundava e embalava de som as noites da vila e da vida matosinhense.
Os registos mais antigos até agora encontrados sobre a Casa do Ribeirinho datam de 1778, ano em que foi feita a escritura para a construção da Capela num contrato celebrado entre Antonio Bernardo Alvares de Brito e o Mestre Pedreiro Antonio Francisco dos Santos:
no lugar da Capela, existia anteriormente a Igreja de Santo António que foi demolida para no seu lugar nascer a Capela do Solar dos Brito e Cunha, sob invocação de Nossa Senhora da Piedade e Santo António;
em 1553, funcionavam nas imediações da atual Casa do Ribeirinho, o Hospital, a Casa do Povo e a Casa de Audiência e, no século XVIII, foi ali instalada a Cadeia;
o núcleo medieval da povoação de Matosinhos integrava o atual Largo do Ribeirinho, local onde foi construído o Pelourinho (e depois, Cruzeiro) de Matosinhos (é uma estrutura em cantaria de granito composta por soco circular, com um único degrau, com chanfro superior, apresentando encaixe para o fuste, troncocónico esguio e liso; tem um capitel misto com colarinho, gola alta e volutas de tipo jónico, e recentemente foi colocada uma cruz sobre o capitel) que está bem junto à Capela;
no 2.º quartel do séc. XVIII, o Pelourinho ainda se erguia na Praça Pública, não longe da Casa da Audiência e da Cadeia, na antiga Rua do Ribeirinho;
a capela, dedicada a Nossa Senhora da Piedade (em destaque na Capela, num altar lateral) e a Santo António, tem o seu altar principal, do séc. XVIII, onde ao centro está um pequeno trono até à Cruz e de cada lado do altar, tem as imagens de S. Bento e de Nossa Senhora com o Menino ao colo;
a 25/03/2014, Carlos Cambey Galante ofereceu à capela uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, para comemorar os 18 anos de Afonso de Santa Maria João Miguel Gabriel Rafael de Herédia de Bragança com uma missa lá celebrada pelas 19:00, a cargo do Reverendo Padre Gonçalo Aranha e seguida de um jantar, por iniciativa da Real Associação do Porto que a marcou antes de 20/03/2014 por sugestão dos pais do aniversariante.
Enviar um comentário